Educação
É um fato, as políticas de cotas no Brasil deram certo! Os programas que ajudaram as universidades realmente a pensarem e integraram pluralmente acontece no Brasil desde o início da década de 2000.
A política de cotas surgiu na Índia na década de 1930, as quotas raciais são consideradas, pelo conceito original, uma forma de ação afirmativa para reverter o racismo histórico contra determinadas profissão, etnias ou raças. No Brasil o Supremo Tribunal Federal analisou a questão das quotas raciais em 2012 e reconheceu, por unanimidade, sua constitucionalidade.
No Brasil segundo o IBGE as cotas deram tão certo que o registro de jovens negros cursando o ensino superior já representa a maioria em 2019, no ano de 2005 eram de apena de 2,2%, em 2010 passou para 9,9% e em 2015 chegou aos 17%. Os índios também passaram a alcançar porcentagens de 0,1% em 2005 para mais de 7% em 2015 e pessoas com deficiência 5%, jovens brancos com renda per capta de até um salário mínimo 22%.
A publicação da portaria 545 no Diário Oficial da União da quinta-feira, 18 de junho, do então ministro da educação, Abraham Weintraub, que foi forçado a entregar o cargo por conta de esta citado nas investigações dos processos dos atos antidemocráticos e das fake News, revogou uma portaria de 2016 feita pelo ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) no final do governo Dilma Rousseff (PT) que determinava que as instituições adotassem esses programas para ampliar a “diversidade étnica e cultural” no corpo discente, em outras palavras, garantiria oficialmente a política de cotas para negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação nas universidades e institutos federais.
O ato sem decência do ministro que fugiu do Brasil em seguida, foi questionado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mandes, que deu prazo de 48h para o MEC se explicar sobre o ato do ex-ministro Weintraub.
"Intime-se com urgência o Advogado-Geral da União, via WhatsApp, sobre o objeto da presente arguição, para que preste informações em 48 horas. Após o decurso do prazo, voltem os autos conclusos para exame da medida liminar pleiteada", determinou Mendes.
O que precisamos entender é porque um ministro de estado elabora tão cruel ação em um programa que consegue resultados positivos e reais ao país? Porque tanto ódio contra as minorias de quem ocupava um cargo que veio do povo para servir ao povo? Excluir pessoas que batalham diariamente por uma oportunidade que mude suas vidas é cruel e inconstitucional.
O Brasil está contaminado não somente pelo coronavírus, mas também pela doença do fascismo, que enrustido por um falso patriotismo, multiplica a ignorância e um liberalismo entreguista esquecendo dos 210 milhões de brasileiros que dependem das políticas públicas básicas, que estão lhe sendo negadas, para sobreviver.
Do Cabeça Livre - Na terça, 18/02, a deputada federal, Dorinha (DEM), apresentou o relatório da Comissão Especial que trata da PEC do Novo Fundeb (PEC 15/2015).Apesar de qualidades, como a defesa da destinação do dinheiro público para a educação pública e a constitucionalização do Custo Aluno-Qualidade, o documento contém problemas e limites para contemplar o financiamento adequado da educação pública.
O Fundeb atual acaba no dia 31 de dezembro de 2020 e sem a aprovação do Novo Fundeb mais de 156 bilhões vão ser desorganizado e mais de 40 milhões de matriculas ficarão descobertas.
Para uma melhor análise do relatório, vários parlamentares pediram vistas coletivas para ganhar tempo para estudar e estruturar o relatório.
Para o coordenador da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, Daniel Cara, um bom Fundeb teria que garantir recursos que universalize a educação pública com padrão de qualidade e condições para professores ensinarem e alunos aprenderem. Respeitar a tradição de distribuição de recursos e criar mecanismos equitativos para distribuir esses recursos, criando um sistema hibrido que combine com o que já vinha acontecendo a 20 anos como estratégia de distribuição de recursos e esse sistema dentro do relatório é uma conquista da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação.
Daniel lembrou que se formos contra isso as regiões mais afetadas com a falta de recursos será o norte e nordeste. Precisa-se garantir o aumento da participação do governo federal que hoje coloca 10 centavos a cada um real investido pelos estados.
O relatório apresentado depois de muita pressão inclusive do mercado financeiro e entidades empresariais que atrapalham a educação, parlamentares que se dizem defender a educação, trabalham contra o percentual que era de 40%, ou seja, 40 centavos do governo federal por cada um real investido pelos estados que agora vai para 20%, ou seja, 20 centavos.
“É preciso garantir que o novo Fundeb seja capaz de valorizar os profissionais da educação, por isso é preciso aumentar os investimentos do Fundeb, constitucionalizar o Custo Aluno Qualidade (CAQ) para garantir um padrão de qualidade da escola pública, ou seja, uma escola com internet, quadra coberta, pintada, fardamento, merenda com qualidade, profissionais trabalhando com planos de cargos e carreiras, gratificações e bonificações”, afirmou Cara.
Escute o áudio:
Daniel Cara relatando os pontos de necessidade pra garantir um padrão de qualidade da educação brasileira.
O professor José Roberto Duarte compartilhou em seu blog sua coluna semanal do Jornal A Praça, nela ele conta um pouco da historia do Colégio Cenecista Ruy Barbosa, que sobreviveu a tempos sombrios fazendo educação e tendo a frente o querido educador Dr. Édson Luiz Cavalcante de Gouvêa.
Lamentável, mas previsível
O que muitos temiam aconteceu oficialmente: a CNEC - Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, mantenedora do Centro Educacional Ruy Barbosa, oficializou, nesta semana, o encerramento das atividades da mais tradicional escola privada em funcionamento em Iguatu e na região. Fundado no início dos anos 60, com apoio de Dr. Manoel Carlos de Gouvêa, inspirado no ideal de Felipe Thiago Gomes, fundador da CNEC, que vislumbrava oferecer educação de qualidade a estudantes carentes, com preços acessíveis, o colégio Ruy Barbosa durante meio século foi a segunda casa de alunos, professores e funcionários que ali tiveram, em grande parte de sua história, o privilégio de conviver com o inesquecível Dr. Edson Gouvêa, diretor cuja figura se confunde ainda hoje depois do seu falecimento em 22 de fevereiro de 2008.
Escola da Comunidade
A liderança e o idealismo de Dr. Edson cativaram a sociedade iguatuense que abraçou com muito amor e carinho o Ruy Barbosa, que embora tenha sido fundado nos anos 60, só conseguiu sua sede própria nos anos 80. E ela foi construída com doações de tijolos, de cimento, de carradas de areia, feitas pelos alunos que também se engajavam em campanhas para arrecadar fundos para compra de material e pagamento de mão de obra. E haja rifas, balaio de São João, festas e manhãs recreativas promovidas, nas quais professores eram porteiros, garçons, segurança, cuidavam da limpeza. Ou seja, havia o sentimento de dedicação, de colaboração, de pertencimento aos ideais defendidos pela figura empreendedora de Dr. Edson. Não falo pelo que ouvi dizer. Falo pelo vi e vivi como aluno durante 5 anos (1979 a 1984), depois como professor por 22 anos (1995 a 2017).
Auge e decadência
Enquanto teve autonomia, o colégio Ruy Barbosa se manteve altivo e lotado de alunos. Nos anos 80, após a mudança para a sede própria, e 90, o colégio mais que triplicou suas dependências, incluindo salas de aula, laboratórios, biblioteca, ginásio esportivo coberto e a vila olímpica. Na virada do século XXI, a CNEC, que até então só era conhecida pelos iguatuenses na letra do Hino Cenecista, decidiu assumir, principalmente o controle financeiro da instituição. Poucos sabem, mas tal fato abateu Dr. Edson, que se viu manietado e foi tomado por intensa tristeza, que o fez adoecer e agravou seu estado de saúde, que culminou em sua morte. Ali estava selado o declínio, por mais que a nova direção, os coordenadores, professores e funcionários se esforçassem, o estrago havia sido feito. A CNEC chegou a ter quase 100 escolas no estado do Ceará. Hoje são menos de 10. As demais fecharam suas portas. Má gestão e incompetência da mantenedora, numa sucessão de erros e omissões, foram os pivôs do fracasso. O Ruy Barbosa é a última unidade da CNEC de grande porte em funcionamento no Ceará.
Patrimônio da comunidade
A CNEC tem sede de vender as instalações do Ruy Barbosa. Alimenta a possibilidade de arrecadar milhões com a venda do patrimônio que foi construído pela comunidade com suor, esforço, atendendo ao chamado de Dr. Edson cuja credibilidade hercúlea mobilizava as campanhas de doação e construção. Em 1999, a diretora financeira Fransquinha Silva e a coordenadora de eventos Enilda Araújo me pediram uma frase para campanha de matrículas. De súbito, eu disse: “Centro Educacional Ruy Barbosa: a força da comunidade fazendo uma escola de qualidade”. Portanto, o prédio do Ruy Barbosa é patrimônio material e imaterial de todos os iguatuenses. Ou seja, a CNEC não pode simplesmente fechar a escola e vender o prédio que por crédito e mérito não lhe pertence.
Diante de uma série de ataques da política conservadora contra os direitos básicos do povo brasileiro, movimentos sociais, sindicais, partidos de esquerda e de centro, estudantes e cidadãos de todas as idades, estão indo às ruas de todo o país no próximo dia 13 de agosto.
Para termos ideia da necessidade do envolvimento de todos e todas, atualmente os cortes do governo federal no orçamento da educação chegam a R$ 6,1 bilhões até agosto de 2019 e ameaçam diretamente a qualidade da educação básica com o fim da estabilidade do Fundeb e provocam o sucateamento da universidade pública e a sua privatização com o Programa Future-se; a censura e os ataques à democracia e Constituição Federal já são uma realidade cotidiana com a possibilidade da Lei da Mordaça, perseguição aos servidores públicos, redução de salários dos professores, fim da aposentadoria por meio da Reforma da Previdência e as privatizações sem transparência de dados das empresas estatais brasileiras. Todos esses fatos são motivos para todas as pessoas pararem suas atividades por um dia e conclamar toda a população para somar forças em defesa do Brasil.
Participe do #13AGO #13AGOIguatu
No município de Iguatu-CE não será diferente, várias forças pensantes e populares se reuniram para mobilizar a população a se manifestar democraticamente no ato público que irá acontecer no próximo dia 13 de agosto, às 7h30 da manhã, com concentração na Praça Gonçalves de Carvalho (Praça da Caixa Econômica) localizada no centro comercial da cidade.
No período da noite a concentração acontece a partir das 18h na Praça da Matriz, com um ato político e cultural com manifestações culturais realizadas pelos artistas da nossa cidade.
O momento é pacifico e busca dialogar com a população sobre o conhecimento dos seus direitos que tem sido atacados nos últimos dois anos e mais fortemente nesse primeiro período de 2019, pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
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Mobilização:
Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica de Iguatu (Sinasefe), Sindicato dos Guardas Civis Municipais de Iguatu (Sindiguarda), Centro Acadêmico de Pedagogia da FECLI, Mídia Livre Ceará, Centro Acadêmico de Serviço Social do IFCE, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude, RUA Juventude Anticapitalista, Sindicato dos Servidores Públicos e Municipais de Iguatu (Spumi), Campo Democrático, Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).
Brasil de Fato - Neurocientista analisa governo Bolsonaro, protestos em defesa das universidades e avanço de teorias anti-científicas.
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis vive há três décadas no exterior e roda o mundo para divulgar sua pesquisa científica. Por isso, não tem dúvidas ao sentenciar: a comunidade internacional está perplexa com os desmontes e cortes na educação pública anunciados pelo governo brasileiro, chefiado por Jair Bolsonaro (PSL).
“O mundo inteiro está pasmo. Revistas internacionais de ciência dedicaram espaços que o Brasil nunca ganha, como por exemplo na Nature, para falar do total espanto e choque que é qualquer governo de um país como o nosso tentar criminalizar e afogar as universidades, ao invés de promover, defender e ampliar seus horizontes”, diz.
Em maio, estudantes e professores protagonizaram protestos massivos por todo o país após o anúncio do cortes de bolsas e da redução do orçamento das instituições federais, que respondem por mais de 90% da pesquisa científica no país.
Nicolelis é um dos principais nomes da ciência brasileira. O engenheiro biomédico foi considerado, em 2009, um dos 20 maiores cientistas da atualidade pela revista Scientific American.
Professor da Duke University, nos Estados Unidos, ele lidera o Projeto Andar de Novo. O trabalho já logrou que dois paraplégicos voltassem a caminhar por meio do desenvolvimento de um dispositivo de estimulação muscular e de uma interface cérebro-máquina.
De passagem por São Paulo (SP), o cientista conversou com o Brasil de Fatoantes de uma palestra no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Na entrevista, ele lembra que o extinto programa Ciência Sem Fronteiras levou o Brasil para outro patamar no mercado científico internacional. “Foi um dos maiores programas de fellowships científicas do mundo”, defende.
Ele afirma que o asfixiamento das universidades públicas, a perseguição das ciências humanas e a redução científica impactam em perda de soberania do país. “Nenhum país distribui colaboração ou know-how espacial. O Brasil teve que construir tudo na força da sua própria competência científica, no CTA [Centro Técnico Aeroespacial] de São José dos Campos e aplicando na base de Alcântara. E nós estamos dando de mão beijada isso.”
O pensamento crítico, lembra o cientista, é o antídoto para conter o avanço de pensamentos anticientíficos como o terraplanismo e teorias que negam as mudanças climáticas - que cada vez mais ganham espaço internacionalmente.
Abaixo, confira a íntegra da conversa.
Brasil de Fato: A pauta da educação movimentou, neste semestre, os maiores protestos no país. E o tema também esteve no centro de algumas crises do governo, que culminou em queda, por exemplo, do primeiro ministro nomeado para pasta. Qual sua avaliação da gestão da educação pelo governo federal nestes seis meses?
Miguel Nicolelis: O fato que a educação mobilizou tanta gente no Brasil mostra que ela é central no discurso e no pensamento da sociedade brasileira. O grande drama, que sinto, é a falta de aprofundamento dessa questão. Falar que é a favor da educação, todo mundo é a favor. E a gente viu que o tema foi capaz de mobilizar talvez o maior número de pessoas [nas ruas] desde a eleição. O que é surpreendente, por um lado. Mas, por outro, não é porque todas as famílias e camadas sociais brasileiras sabem que a esperança de seus filhos, netos e todos os jovens têm - e o país tem - de um futuro melhor reside nas oportunidades educacionais.
Eu acho que o que mobilizou mais ainda, que é muito diferente de qualquer outra coisa que a gente viu em muito tempo - eu não me lembro nem no governo militar de ter visto nada semelhante - é a perspectiva de asfixiamento das universidades e institutos federais. Eles correspondem a mais de 90% da produção científica do Brasil. E o almejo da grande maioria dos jovens brasileiros de cursar um ensino superior de alto nível, que se transformou em uma das maiores malhas educacionais de ensino superior público do mundo.
Então, eu acho que no momento em que a sociedade brasileira começou a ver declarações, medidas e decretos que claramente apontavam para um estrangulamento das universidades federais, gerou-se um fator catalisador. Essas expressões, curiosamente, se desenvolveram a partir da perspectiva de se perder esse grande patrimônio nacional, que é a rede universitária federal. E, evidentemente, que até agora a gente não viu qual é a proposta do governo para os ensinos superior, básico nem ensino nenhum. O que a gente viu foi uma crise atrás da outra.
Não só eu, mas o mundo inteiro está pasmo. Revistas internacionais de ciência dedicaram espaços que o Brasil nunca ganha, como por exemplo na Nature, para falar do total espanto e choque que é qualquer governo de um país como o nosso tentar que criminalizar e afogar as universidades, ao invés de promover, defender e ampliar seus horizontes. Basicamente usar o corte de verbas como a grande estratégia para calar o pensamento intelectual, o pensamento dos jovens, dos professores e dos funcionários. É uma grande calamidade.
O governo tem como alvo prioritário as ciências humanas, fala muito da ideologização da sociologia e filosofia, mas a extensão desses cortes também afeta a totalidade da produção científica…
Em nenhuma das duas bandeiras faz nenhum sentido, né. Eu sou um cientista biomédico. E não existiria ciência biomédica sem a filosofia. A ciência humana é a ciência do homem, por definição. O estudo do homem, das suas relações sociais, antropológicas, as suas ambições e anseios. Então, não se pode criar essa separação. Essa separação não faz o menor sentido. E evidentemente ela não contribui em absolutamente nada para o avanço da educação dos nossos jovens. Você remover o ensino de filosofia, sociologia do Ensino Médio, por exemplo, é um descalabro tão grande do ponto de vista intelectual que fica até difícil comentar. Você não vê qual o parâmetro que pode levar esse tipo de proposta.
E não é só aqui [que isso é visto com preocupação], mas fora do Brasil também. Eu estava dando uma palestra na Universidade de Lisboa há quase dois meses. Era o dia da primeira manifestação dos estudantes no Brasil. Quando eu contei aos estudantes e professores da universidade o que estava acontecendo no Brasil e pedi o apoio deles, foi um choque. O Brasil forneceu estudantes para Portugal, por exemplo, com o Ciência Sem Fronteiras, que Portugal nunca teve. Os EUA tiveram um fluxo de 25 mil estudantes brasileiros. E, pela primeira vez na minha vida, eu vi universidades americanas como o MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts] e [Universidade de] Harvard abrirem escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro para recrutar os melhores estudantes brasileiros. Eles viram não só que o talento humano era muito grande, mas eles recebiam o dinheiro do governo brasileiro para receber cada um desses alunos.
[O Ciências Sem Fronteiras] foi um dos maiores programas de fellowships científicas do mundo. Quando eu fui para a China, os chineses estavam falando desse programa e da admiração do fato de que 108 mil brasileiros foram para o exterior estudar, no limite do conhecimento humano, para ver o que existia e voltar para cá, né. Então, na realidade, o que choca é a própria falta de lógica e noção da proposta. Você iniciar o governo tratando como inimigo a universidade pública brasileira, você está pedindo para ter problemas de grande porte.
É preciso dar continuidade a essa manifestação de desagravo. Não adianta se ela for pontual, apenas. Claro que passa a emoção daquele dia de manifestações, que foram muito parecidas com as manifestações das Diretas Já, quando eu era aluno aqui no Brasil. Mas você precisa dar continuidade a isso porque é óbvio que é uma estratégia que não vai ser posta de lado. Ela vai continuar. E existem universidades que daqui a alguns meses não tem como funcionar. Elas não têm como desempenhar suas funções.
E como todo esse contexto reposiciona o país, geopoliticamente, e em relação à soberania?
O Brasil estava tendo uma ascendência meteórica com os investimentos que foram feitos tanto pelo Ministério da Educação quanto pelo Ministério da Saúde e [Ministério da] Ciência e Tecnologia. Essa ascendência foi notada em número de publicações, na qualidade das publicações, na qualidade de alunos brasileiros, na penetração dos cientistas brasileiros no mercado internacional de ciência… Isso era tudo muito claro. Era tangível. Você podia medir, ver.
O mercado internacional de ciência não é fácil de se penetrar. Existem uma série de preconceitos. Eu vivo há 31 anos nos EUA, conheço de cor e salteado como você faz para impedir que certas áreas da ciência de ponta tenha a participação de países como Brasil. Na pesquisa aeroespacial, por exemplo. Na minha visita à Alcântara [no Maranhão] uns anos atrás, eu descobri que nenhum país distribui colaboração ou know-how espacial. O Brasil teve que construir tudo na força da sua própria competência científica, no CTA [Centro Técnico Aeroespacial]de São José dos Campos e aplicando na base de Alcântara. E nós estamos dando de mão beijada isso. Nem sabemos o que vamos acontecer ali dentro.
Então, esse momento, que já vem desde 2015, quando o Brasil deixou de ser governável, com a preparação do impeachment e do golpe, e depois, no governo [de Michel] Temer, a curva, eu chamo, é de ascensão e o crash da ciência brasileira. De repente, se puxou o tapete. Então imagina, você foi para fora do Brasil com uma bolsa do governo brasileiro para fazer uma pesquisa em astrofísica na Harvard e, agora, você é um doutor em astrofísica e quer voltar para o Brasil… Você vai para onde? Você vai trabalhar onde? Você vai reposicionar o Brasil nessa área como? A conclusão é essa: é uma grande tragédia que compromete drasticamente a soberania do Brasil. Não agora, somente, mas em várias décadas que estão por vir ainda.
Uma pesquisa do INCT, divulgada nesta semana, mostra que 67% dos jovens brasileiros têm interesse por ciência, o que é um dado…
Maravilha!
…muito positivo. Mas, em contrapartida, um a cada quatro, acredita que vacinas fazem mal. E 54% afirmam que os cientistas exageram, por exemplo, com relação a mudanças climáticas. Teorias terraplanistas, por exemplo, estão ganhando espaço em todo o mundo… Como o sr. enxerga o avanço dessas teorias anti-científicas?
É um fenômeno histórico da humanidade, né. O que é mais assustador no momento atual é que, com a interconectividade global que existe, você consegue espalhar esse tipo de absurdo muito rapidamente. Você consegue criar movimentos, por exemplo, teve um congresso de terraplanistas nos EUA, perto de onde moro. Quer dizer, os caras foram no espaço, fotografaram a terra… Se você tinha qualquer dúvida, teve gente lá em cima que fotografou. A evidência é óbvia. Circunavegaram a terra antes de sair para o espaço. Não dá nem para entrar em um debate como esse…
Sobre a questão climática, toda a evidência disponível e experimental de gente séria que trabalha na área evidente que demonstra o impacto humano…
Então o que explica essa negação de evidências?
A falta da formação do pensamento crítico. Os sistemas educacionais ao longo do mundo não estão conseguindo dar conta de formar pessoas que conseguem pensar criticamente. E isso não é um fenômeno nacional. Nos EUA, eu moro em uma região do país onde isso é muito frequente. E os cientistas são atacados até mesmo fisicamente.
Então, é quase curioso que depois de todo o desenvolvimento que nós experimentados cientificamente nós estejamos voltando para uma época, com toda a tecnologia que foi desenvolvida, toda a hiperconectividade… Eu falo isso no meu livro, inclusive: estamos voltando para uma época em que parece que voltamos 800 anos atrás. Estamos negando princípios básicos da descoberta científica que são clássicas. E isso é muito preocupante.
Para mim, isso é um reflexo claro do momento em que o mundo vive de como as tecnologias digitais estão reprogramando nossos cérebros, como elas estão alterando nossa percepção da realidade e como é tão fácil uma pessoa criar uma realidade paralela e conseguir administrar ela para milhões de outras pessoas. Na minha opinião, esse é um dos problemas mais sérios que nossa espécie enfrenta nesse instante: como não transformar o ser humano em um robô, num autômato, que não tem mais a capacidade de pensar por si só e de ser crítico.
É um bombardeio, se você for parar para pensar. Se você olha para o que sai hoje nas redes sociais, é um contínuo bombardeio de teorias da realidade. E se você não tiver o mínimo de formação, o mínimo de capacidade de discernir o que é real e o que não é, fica muito difícil. Às vezes, quase impossível com as manipulações de imagens e de vídeo que são feitas hoje.
O ministro da Educação , Abraham Weintraub, defendeu nesta terça-feira,25/06, o aumento da complementação da União no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), dos atuais 10% para 15% em cinco anos. A proposta já havia sido apresentada em 2015 pelo o Ministério da Educação (MEC) da época e recentemente foi enviado novamente pelo MEC à comissão da Câmara que discute a prorrogação do fundo, que vence ano que vem. Os deputados consideram o valor baixo e trabalham com uma elevação gradual que precisa chegar a 30%.
Ao falar para a comissão da Câmara nesta terça-feira, após ouvir reclamações de parlamentares de que 15% ainda é um índice muito baixo, Weintraub disse que só é possível discutir um novo aumento na complementação da União “mais pra frente”, condicionando essa hipótese após votação da Reforma da Previdência, ação que tem impacto negativo na educação. Ele defendeu que, “mais do que na educação”, o importante é dar “um passo na direção da economia”, com adoção de novos critérios para a distribuição da verba, como cumprimento de metas educacionais.
Weintraub logo no inicio quando assumiu a pasta disse que o "nordeste não precisa de dinheiro para a educação, basta retirar historia e filosofia que aparece dinheiro".
O ministro afirmou ser contra sugestões de eventuais novas regras de distribuição do orçamento na educação.