Se o sábio jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues pregava que toda unanimidade é burra, no discurso praticamente unânime contra o decreto destaca-se a posição do Grupo Bandeirantes de rádio e televisão, que abriu suas baterias editoriais num autêntico fogo de barragem contra a iniciativa governamental, sem qualquer espaço para o contraditório.

De que tanto reclamam os veículos? Na sexta-feira (8/1), nota conjunta das três maiores entidades patronais da comunicação – Abert, Aner e ANJ – protestou contra a suposta "criação de uma comissão governamental que fará o acompanhamento da produção editorial das empresas de comunicação e estabelecerá um ranking dessas empresas, no que se refere ao tema dos direitos humanos".

Razões de sobra

O diabo não é tão feio quanto parece. Os críticos da iniciativa se esquecem de informar que o texto é, por enquanto, apenas um indicativo cujo trâmite ainda prevê discussão e aprovação no âmbito do Congresso Nacional. E o que propõe o decreto? Propõe o seguinte: "Elaborar critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de comunicação comprometidos com os princípios de Direitos Humanos, assim como os que cometem violações". E, mais adiante: "Recomenda-se (...) fomentar a criação (...) de Observatórios Sociais destinados a acompanhar a cobertura da mídia em Direitos Humanos".

É o que fazem, em última análise, os monitoramentos que alimentam pesquisas realizadas por entidades como a Andi, o Intervozes e mesmo este Observatório, ou a campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania".

De mais a mais, o texto do decreto coloca em relevo as obrigações constitucionais dos veículos de radiodifusão – que não são, por óbvio, propriedade exclusiva de seus controladores, mas concessões públicas cujo usufruto exige contrapartidas previstas em lei.

Ocorre que o patronato da mídia não suporta ser fiscalizado e muito menos admite submeter-se a algum tipo de regulação, qualquer regulação. Vêm daí as razões do esperneio.

 

Texto original de Luiz Egypto do Observatório da Imprensa.