É, mas parece que a imaturidade de muitos organizadores não deu conta do evento faraônico. O alojamento em que os estudantes foram abrigados estava em condições deploráveis, sim, é essa a palavra. Locais sem nenhuma estrutura para receber os 15 mil estudantes. Onde estava a Coordenação de Mobilização dos estudantes e artistas nessa hora? Banheiros em péssimas condições, cantinas com alimentação escassa, cara e ruim, nem telefone público havia nos alojamentos. Diversos foram os casos de estudantes que tiveram seus pertences roubados, máquinas digitais, notebooks, celulares, dinheiro... Estavam rasgando barracas para roubar os pertences. E onde estava a segurança? Dormíamos todos tensos, com medo de ladrões. Claro, qualquer estudante sabe que não se espera luxo num congresso, mas espera-se o mínimo de dignidade para recebê-los, atendê-los, entendê-los.

As oficinas e palestras aconteciam com presença mínima dos estudantes, que, em sua maioria preferiu ir ao Rio de Janeiro para fazer turismo, após se deparar com aquilo. E o retorno disso tudo? Chega onde, chega a quem, à imprensa? Porque para os estudantes a Bienal foi como um festival de música, afora os atrasos absurdos em praticamente todas as programações, somente os shows foram bons, somente. Mas uma Bienal não é só festa, entretanto, parece que foi só isso que importou para muitos dos organizadores, só isso que levamos dessa Bienal, uma festa como qualquer outra, regada a bebida e canabis, no caso, muita canabis.

Pior para os selecionados, que foram apresentar seus trabalhos e, para muitos deles, nem isso foi possível devido à desorganização dos coordenadores. Comigo, por exemplo, aconteceu que após produzir um videoconto com parceria da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Vila das Artes (Casa de Cinema – Prefeitura de Fortaleza), não exibi meu trabalho porque um televisor no “Buteco Literário” quebrou e uma pessoa da coordenação da mostra de literatura a qual fui selecionado, me disse “Cara, não posso fazer nada!”. Imagine só sair da sua cidade, parar sua vida para apresentar um trabalho que te gerou custos, conseguir autorização para se ausentar do trabalho, desmarcar ensaios dos seus trabalhos artísticos e ouvir: “...não posso fazer nada!”.

É absurdo, mas pior é que nem desculpas eu ouvi, nem depois de gritar reivindicando por esse ato revoltante da Coordenação de Literatura. Havia projetor no Teatro Arena, na mostra audiovisual e em outros lugares, mas nenhuma solução foi encontrada por imaturidade da organização que pouco se importou com os trabalhos que eram ou não eram apresentados. Além disso, publicaram um pedaço no meu conto no jornal e assinaram “Danilo Lima”, mas meu nome é “Danilo Castro”. Além disso, meu conto no site foi publicado paragrafado, mas no meu conto não há parágrafos. Além disso, somente o nome de duas convidadas para mostra de literatura saiu na programação, nenhum selecionado de literatura saiu na programação, enquanto todos os selecionados das outras áreas teve seu nome publicado. Além disso, houve um atraso horrendo quanto ao pagamento dos 100 reais prometidos como pró-labore, que foi pago somente no último dia às 21 horas. Além disso, a Coordenação de Áreas, não foi tão cortês com muitos que reivindicavam o que nos era de direito. Além disso, nem certificados os selecionados receberam porque a Bienal não fez certificados para os selecionados. Se eu continuar, não pararei de citar a palavra “além”.

Se fosse um caso isolado, poderíamos pensar, em toda produção há falhas, mas não foi isolado, pelo contrário, todos que conversei detestaram a Bienal, estudantes do Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Pará, Puaí, Brasília, etc.

E o que fazer agora depois da desmoralização? Será que um estudante dentre os 15 mil vai ter voz para alguma coisa? Será que a UNE vai me responder esta nota pedindo desculpas pelo ocorrido? Será que algum veículo vai dar espaço para esse manifesto? É completamente paradoxal um estudante ser lesado por uma entidade que luta pelos estudantes.

No 9º Distrito Policial do Rio de Janeiro, fui aconselhado pelo inspetor a ir ao Juizado Especial e à Defensoria Pública do Rio de Janeiro para mover uma ação contra danos morais. Então, estou tentando resolver por vias legais, é o mais sensato numa situação como essa.

Espero que a Coordenação Geral, numa outra oportunidade, possa repensar sua equipe e trabalhar com pessoas que tenham competência para arcar com um evento nessas proporções, pessoas humanizadas que, no mínimo, saibam respeitar o estudante.

Fonte:http://daniloalfa.blogspot.com/2011/01/nota-de-repudio-bienal-da-une-e-uma.html