O onironauta, a rota da seda e o nó gordio.

19 de abr. de 2023

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José C. Braga 


Aquele que em nossa cidade mantêm sonhos de natureza ecológica ou coletiva mantém o estigma do ostracismo

Cultivar aspirações libertárias significa estar aquém dos interesses das forças politicas estabelecidas, espúrios interesses baseados no escoamento do erário publico ao fundo privado. Os corruptores já são figuras tão recorrentes em nossa cultura municipal que trata-se do tema com irreverência ou impassibilidade, as características mais apreciadas em nosso jogo político são aquelas que esbanjam nos gabinetes de nossos oprobriosos deputados e ex-prefeitos e em suas redes sociais, quem lá encontramos os adornando são espectros acinzentados que abriram mão de suas faculdades morais em troca de favores efêmeros, só esta qualidade de criatura poderia se dispor a aplaudir títeres ou parasitismo público.

Ater-se a ideais ambientais em nossa comunidade é gritar no vazio, discursos desta ordem são solilóquios que nunca convertem-se em debates no nosso meio, somente um onironauta, um sonhador pode aspirar a comutação de nossa realidade política, mas toda realidade já foi um dia sonhada, e os grandes impérios provieram todos do que um dia foi utopia.

Junto ao nosso sonho temos uma oportunidade ímpar de materializá-lo, por meio da transnordestina, do Jaguaribe perenizado, das  universidades públicas e da energia solar, Iguatu tem agora a chance de ser o ponto de encontro entre o sim e o não, a terra da promissão do centro-sul cearense, deixando seu torpor retrógrado e convertendo-se em vanguardista do progresso em nossa região, numa rota da seda sertaneja.

Advindo disso o crescimento esperado, nossa gente irá se refestelar em saber que os dias das oligarquias deram lugar a um fôlego novo com o nome de Sá Vilarouca, que com a espada do progresso e da administração consciente acutilará o nó górdio que estrangula nosso porvir.

Ansiamos que pela "rota da seda" nosso futuro seja opíparo e que a nau de nossa cidade tenha por timoneiro aquele que guiado por uma constelação vermelha (Principiada por Lula e contando com De Assis Diniz e Guimarães) consiga lobrigar e remediar nossas carências e mazelas.



O DEBATE E A DIALÉTICA

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A dialética é a argamassa do debate, um elemento e outro sozinho, é igual a nada.

A terceira lei desta ciência é a da Negação da Negação.

          Embora sejam pertinentes deixamos as duas primeiras de lado e nos agarramos à terceira. Ela fala da tese, da antítese e sínteses. Para exemplificar esta questão recorremos à dicotomia da galinha e do ovo; neste caso, parece-me que a tese fala da primogenitude da galinha, já antítese diz que o direito à primogenitura pertence ao ovo, de modo, que até então, ainda não temos uma síntese elaborada para resolver tal problema. 

          No Ceará, precisamente na bela cidade de Iguatu temos um homem que é cientista, filósofo, orador, folclórico e escriba ao mesmo tempo. Esse homem ao longo de muitos anos vem realizando um magnificentíssimo trabalho ambiental que visa, em primeira mão, cuidar do rio Jaguaribe e também promover educação na referida área. Falo aqui do senhor Neto Braga, que para mim é um gigante e para muito é apenas um ser invisível! Aos que pensam assim, eu os chamo de ignorantes ou imbecis.

          Tenho notícias de que nos últimos meses foram discutidos alguns projetos inerentes ao usa da água no Ceará; o grupo elaborou uma proposição, pela qual fora estabelecida uma ordem de prioridades, o que é normal e imperioso em qualquer planejamento.

          Entretanto, incluiu uma proposta advinda do senhor Neto Braga, coma baixa prioridade, coisa que rendera uma longa e ruidosa batalha de idéias. Acreditem que a proposta pugnava pela educação ambiental e ainda assim houve divergências. Nos dias atuais dar para acreditar que educação ambiental não está na primeira linha de prioridade em qualquer que seja o lugar do mundo?

          Pois então vejam: a presidenta do Comitê da Sub Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe, vereadora Rosângela Maria Lucas Teixeira, infelizmente foi uma das que tentou justificar a não prioridade. Compreendemos que ela não o fez por maldade, mas sustentamos que a senhora presidenta do Comitê está completamente errada. Pretendo provar o que digo por meio da dialética, vejamos algumas teses sobre o tema em questão:

Ainda em 1832, no livro: Os Miseráveis, Victor Hugo escreve:

            “Joguem isso no grande cadinho; sua abundância virá dali. A nutrição dos campos produz o alimento dos homens.

           Cada um é mestre em perder essa riqueza, e ainda por cima podem achar que sou ridículo. Essa seria a obra-prima de sua ignorância.

          A estatística calculou que a França, sozinha, joga no Atlântico, pela boca de seus rios, quinhentos milhões. Notem isso: com esses quinhentos milhões pagaríamos a quarta parte das despesas do orçamento. A habilidade do homem é tanta que ele prefere livrar-se desses quinhentos milhões na sarjeta. É a própria substância do povo que é levada, aqui, gota a gota, ali em ondas, pelo miserável vômito dos nossos esgotos nos rios, e pelo gigantesco vômito dos nossos rios no oceano. Cada golfada das nossas cloacas custa-nos mil francos. O que produz dois resultados: a terra empobrecida e a água contaminada. A fome saindo dos sulcos e a doença saindo do rio.”     

          A China, mais ou menos na mesma época, fez um grandioso programa de tratamento de fezes humana, transformando a imundice que iria para os rios em adubo para fertilizar os campos. Não é à toa, que esse país é nos dias atuais a economia mais sólida do mundo; isso se dar porque usa a razão e a ciência em seu beneficio ao contrário da ignorância do Brasil, por exemplo. Aqui nos petrificamos através dos dogmas ou nos desmoralizamos pelo lucro que são as duas formas mais eficiente para transformar um povo em mero ajuntamento de miseráveis.

          Na França como vimos, faz 191 anos que se levantou preocupação em relação à saúde dos rios e porque não dizer, com a falta de consciência ecológica, mas apesar do tempo, no Brasil ainda hoje políticos e sociedade cível se debatem procurando uma resposta para o grave problema da destruição do meio ambiente. Quanta incapacidade!

          Fazendo-se uma analogia entre o problema da galinha e do ovo é também necessário indagar sobre o que deve vir primeiro. Se a distribuição de água ou a educação ambiental. 

          Vejamos: De toda água existente na terra, apenas 3% é doce e menos de 1% é própria para o consumo humano, portanto, a situação é gravíssima, e, além disso, temos outros problemas que derivam da irresponsabilidade e ignorância do homem, pois, à medida que jogamos lixo, esterco e diversos produtos químicos nos rios e nos mares, contaminamos o planeta, multiplicamos as bactérias e colocamos em risco à saúde coletiva.

          E agora; qual será a sínteses?

          Indubitavelmente a educação vem em primeiro lugar; mesmo porque no Brasil ao longo de sua história se desprezou a educação. No tempo do império, o rei proibiu os negros de frequentarem as escolas, a infame ditadura militar de 1964 prendeu Paulo Freire e outros educadores, além de matar estudantes, e agora na semi ditadura do verme ignorante que teve início em 2018 e fora derrotada em 2022 se fez uma reforma privilegiando a formação profissional, ou seja, o apertar parafuso para produzir mais riqueza para quem já é rico.

          Para finalizar, penso que é chegado o momento de se pensar uma educação para a vida, pela qual se aborde prioritariamente valores fundamentais, como: ética, solidariedade, no princípio da distribuição equitativa das riquezas produzidas pelo trabalho humano, nos direitos humanos, no respeito à vida, ao meio ambiente e outros.

          Penso que cada vereador e cada deputado e também os senadores que servem para quase nada, deveriam pelo menos aprovarem uma lei obrigando a educação ambiental em todas as escolas de ensino fundamental e médio no Brasil; antes que os ignorantes e os desmoralizados pelo lucro acabem com essa terra tão grande e geograficamente bonita.

Inverno de 2023

Antonio Ibiapino da Silva Bertoldo



O onironauta, a rota da seda e o nó górdio

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Braga Jaguaribe

 "Mudar o mundo, amigo Sancho, não é loucura nem utopia... É justiça!"

Em Abril de 2004, escrevi no jornal A Folha do Comércio, na minha coluna Legítimo de Braga, crônica intitulada Doido com Juízo, iniciando ali a interferir politicamente na defesa do sofrido povo de minha terra, sempre com a coragem da verdade, peitando oligarquias centenárias que de muito estupidificam e alienam todo o conjunto de nossa amada terra da água boa, nascia ali o navegante dos sonhos, defendendo bandeiras, divulgando ideias e ideais na formação do ser Humano e na defesa de nossos mananciais hídricos.

O onironauta, foi este navegante dos sonhos que ousou romper com politicas  pré-estabelecidas, abraçando causas sociais dos idosos, das crianças esquecidas pela sorte, na defesa do nosso rio e nossas lagoas, sendo o ponto maior o desejo de transformar o nosso Jaguaribe numa imensa liça na formação do Ser Humano, só este ser Honrado, Honesto, Humilde e Hospitaleiro transformaria a nossa sempre cantada princesinha do ouro branco num porto da rota da seda apesar de todas as amarras   impostas pelas oligarquias cujo único objetivo é manter nosso povo subserviente e servil, ventos favoráveis já nos fazem sentir o doce aroma da dignidade, da liberdade, do progresso, a transnordestina já corta nossa terra em vários pontos, o rio Jaguaribe logo será perenizado com as águas do São Francisco, as novas fontes energéticas, como a energia solar, as universidades públicas e particulares que agora germinam da terra trazendo a doce fragrância do saber têm tornado quase que impossível às oligarquias centenárias permanecerem nesta eterna dança das cadeiras entre o poder público municipal e estadual, freando sempre a qualquer custo qualquer possibilidade de crescimento real do nosso povo. Felizmente uma constelação de nomes petistas vitoriosos nas urnas e firmados no poder a nível federal e estadual têm a responsabilidade maior de fazer com que os benefícios sonhados em décadas de lutas partidárias cheguem ao nosso Iguatu através de nomes como o do nosso presidente Lula, nosso José Guimarães e o Dep. Estadual De Assis Diniz, fazendo com que o nosso pré candidato à prefeitura de Iguatu possa de fato, tal qual Alexandre o Grande, rebentar de um só golpe este nó górdio que de muito tem nos imposto a escravidão ou a escória. Para que o iguatu possa afirmar a uma só voz do nosso petista:

- O Dr. Sá é um bom amigo, leal, gastador e valente, sabe perdoar, cultiva a amizade, é despreendido e esmoler, nunca atraiçoou um serviçal e muito menos um amigo. Timbra em assumir de viseira erguida as responsabilidades dos seus próprios atos por mais pássiveis de censura. Numa só palavra: Um Homem.


Tenho dito


Cícero Correia Lima










Zezinho do Iguatu - Publicado em 14 de Agosto de 2010 no Jornal Agora

23 de set. de 2022

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Zezinho do Iguatu

 

“Filho da terra ou é gigante, ou é minhoca.”

 

Um sujeito entrou no Mercado Público e se dirigindo a um dos açougueiros de plantão, afirmou-lhe:

- Pese um quilo de carne de gado para mim.

Enquanto o magarefe lhe virava as costas para cumprir sua obrigação junto à balança, o indivíduo jogou dentro de sua cesta uma buchada de bode e uma cabeça de porco.

- Um quilo, bem pesado – Afirmava o marchante enquanto lhe entregava a carne.

- Pago por ela, não lhe devo nada! – Afirmou o individuo, afastando-se em seguida, carrancudo.

Um jovem que presenciou a cena, vestido na farda da Guarda Municipal, e que adesivava carros com a propaganda do Zezinho do Iguatu, quis interferir, gritar, correr atrás. Foi impedido por mim, que lhe segurei pelo braço.

- Ele é um ladrão.

- Ele é pequeno, vamos procurar algo maior para atirarmos juntos. Você por exemplo, não está sendo roubado?

- Eu?! Não, por quem?

- Você presta serviços à Guarda Municipal, e recebe o salário pelo seu trabalho. A pouco presenciei você adesivando carros aqui em frente com propaganda eleitoral, e ontem à noite você estava lá na 07 de Setembro aplaudindo o prefeito e sua comitiva eleitoral. Por que você acusa aquele indivíduo de ladrão?

- Ora, eu o vi levar além do quilo de carne que pagou, uma buchada de bode e uma cabeça de porco, é um ladrão!

- Você também é pago para prestar serviços à guarda municipal,  mas além disso exigem de você submissão e subserviência. A bajulação quando você é obrigado a seguir e aplaudir todo evento eleitoral do prefeito, a subserviência quando você é impedido de tomar suas próprias decisões, ter seus próprios candidatos, coagido a votar no candidato do prefeito. É isto ou o inferno. Quem é a maior vítima agora, o magarefe que perdeu a buchada e a cabeça de porco, ou você, que perdeu sua liberdade, sua personalidade. Vamos tomar um cafezinho aqui no Sidrônio, que eu te conto uma história.

- Em tempos que vão longe, quando Alexandre o Grande, invadiu e dominou uma região próxima à Germânia, foi procurado por alguns aldeões desse povo, que lhe fizeram a seguinte queixa:

- Magno filho de Felipe,  há um pirata que sobe com o seu navio o nosso rio, tomando de uns a cevada, de outros o trigo, de alguns os porcos, de modo que nós temos sofrido muito para te pagar os tributos que te devemos por obrigação, viemos pedir-te que nos livre dele.

Alexandre, voltando-se para um de seus generais de sua esquadra de 900 navios, ordenou-lhe:

- Sobe imediatamente este rio com 12 navios, e só me volte com este pirata como prisioneiro.

Dias depois o pirata era trazido à presença de Alexandre, e amarrado, amordaçado, torturado, humilhado, foi jogado aos seus pés, que lhe fez esta descompostura enquanto lhe tirava a mordaça:

- Cão, filho de um cão, maldito sejas tu pela estupidez de tuas ações. Não sabes tu que com este navio vem trazendo a fome e a miséria, o desassossego e o medo a esta população ribeirinha? És um ladrão!

E o pirata, que era tudo, menos covarde, respondeu-lhe:

- Quer dizer que eu, porque tenho um navio, sou um ladrão, e você, porque tem 900 é um conquistador.

...

- Neto Braga, que é que o senhor que dizer com isso?

- Quero dizer que no Iguatu temos que ter a coragem da verdade. Temos muitos Zezinhos, Zezinho da pipoca, Zezinho do algodão doce, Zezinho da garapeira, Zezinho da Bodega, Zezinho Capitão. Mas este Barrichello, ou Pé de chinelo, não é daqui do Iguatu não! É minhoca que querem botar na cabeça do nosso povo, mais uma mentira que eles querem propagar, para nos fazer de trouxas. 

Nós, os cabeças de porco, ou os rega-bofes a quem eles garantem a buchada de cada dia, qual a autoridade moral destes pais diante dos filhos, sendo estes testemunhas de sua submissão. Diante da mentira, não estarão estes pais atirando seus filhos a um rio de piranhas. Onde estará o amor tão propagado pelo Cristo Jesus, “Conhecereis a verdade e a verdade vós libertará”. Não sabem eles que neste instante o poder está em suas mãos, nas mãos do povo. Amaremos de verdade os nossos filhos ao fazê-los de bois de piranha?

 

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Cícero Correia Lima

A adutora, o rio Jaguaribe e o governador Camilo Santana

9 de ago. de 2022

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E o sangue a correr pela artéria do rio Jaguaribe...

O sangue a correr...

Homens da pátria, ouvi

-Salvai o Ceará!

Homens-

O Ceará esta morrendo, está esvaindo-se em sangue...

Ninguém o escuta, ninguém o escuta e o gigante dobra a cabeça sobre o peito enorme

E o gigante curva os joelhos no pó da terra calcinada e nós últimos arrancos vai morrendo e resistindo , morrendo e resistindo, resistindo e morrendo.

                                                                                                                                        (Demócrito Rocha)

Tenho afirmado em minhas andanças pela ribeira do rio da onça, onde tenho levado, idosos, atletas do River Playt de futsal, alunos das escolas municipais, estaduais e particulares, autoridades como nosso bispo diocesano, prefeito municipal, presidente da câmara, maçonaria, União Artística Iguatuense e CDL... que se somos todos filhos da terra do Iguatu, temos por pai o rio Jaguaribe, pois é ele que se deita sobre nossa terra e a fecunda com suas barrentas águas. Nestas andanças já percorremos o Jaguaribe em toda sua extensão na terra da água boa, ora de ônibus, ora a pé, ora a cavalo, desde o sítio Quixoá no distrito do Gadelha, até o sítio Serrote já nas águas do nosso açude do Orós, conhecendo um patrimônio construído por presidentes como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, desde os canais no campo de irrigação Fenelón Lima, da vila operaria Valdemar José de Carvalho, no Gadelha, como os canais de irrigação e o patrimônio arquitetônico do Fomento agrícola, a ponte Demócrito Rocha (Ponte Rodoviária), a ponte férrea, o campo do Esso, o cacimbão da RVC que o poeta Quintino Cunha apelidou de rapariga velha e cansada, o cacimbão da CIDAO, o cacimbão do Kleiton, o cacimbão da casa de saúde e maternidade Santa Terezinha, o curtume de Antônio Lúcio, o antigo matadouro público, o prédio do Ministério da agricultura e os canais de irrigação do Bugi, até as águas do nosso açude do Orós, represadas na altura do sítio Tambiá, Jenipapeiro, Cavaco... Ora replantando a mata ciliar com mudas de nossa flora, ora retirando o lixo acumulado em suas margens, ora distribuindo mudas em reuniões com as comunidades ribeirinhas, ora ouvindo a comunidade e conhecendo a história de vida de tantos gigantes filhos da terra, na propagação de uma contra cultura do lixo, para que conhecendo possamos amar. Incansável como Orfeu tocando sua lira em toda a parte, estive no inicio do mês de agosto, em nossa capital, buscando o apoio, para esta faraônica causa, do governador Camilo Santana na oportunidade que este doava a várias escolas do estado 8000000 em instrumentos musicais e livros a gosto do aluno, apresentei-lhe a minha filha Teresinha (que tinha vencido um concurso do governo do estado na área de crônicas no projeto do governo, alunos que inspiram), na oportunidade presenteei-lhe com o livro 300 anos de Sant’Ana na terra da agua boa e dei-lhe uma camisa. Depois fui recebido pelo secretario de desenvolvimento agrário, De Assis Diniz, já parceiro de nossas lutas em edições anteriores, que me garantiu total apoio para a realização do Troféu Anteu neste ano em curso.

Já de  volta a terra da agua bom com meus filhos e meu neto, percebo uma movimentação não habitual no leito do rio Jaguaribe, mais precisamente na altura da ponte rodoviária, são homens e maquinas que cortam as veias do velho rio em busca de vida, funcionários da prefeitura de um novo tempo que com apoio do governador Camilo Santana que liberou mais de uma milhão de reais para a construção de uma adutora para livrar da sede toda a população iguatuense, e o velho pai, mesmo esquecido por todos, num gesto inigualável de doação, morrendo e resistindo, socorre com o seu sangue, com suas águas os amados filhos seus.

Tenho dito.

Vamos pro rio!

Cícero Correia Lima



Zé Piquiá

21 de jul. de 2022

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 "Se alguém quer ser o primeiro será o último e servo de todos." 

(Marcos Cap. 9 Vers. 35)


Naufrago da vida, que a velhice conheceu acompanhado apenas do vício da embriaguez, de seu nem o nome tinha, piquiá, piquiá, piquiá... Era assim que lhe tratavam alguns galhofeiros em busca de aumentar-lhe os tormentos. Motivo de mofa e risos para muitos embusteiros que se satisfaziam ao ver-lhe perdendo a serenidade, procurando alguma pedra para fazer rebolo, revidando a afronta. Mas não fora sempre assim, nascido à 1° de Setembro de 1943, chegara ao Iguatu acompanhando seus pais, o Sr. Raimundo Ferreira e a Senhora Maria Guedes, juntamente com mais seis irmãos, vinham do Assaré, fixaram residência na barra e ali passou a juventude e a maturidade, trabalhando na agricultura, teve mulher, filhos e até um nome, José Ferreira Guedes. Mas isto é lá de outros tempos, quando o vício da embriaguez ainda não imperava nele, fazendo-o perder tudo. Bom, agora estava ali, na sarjeta, morto a pauladas, feito um bicho.

Era madrugada ainda, quando a Sra. Maria Nonata passou na minha calçada, vinha só, chorando alto, os cabelos em desalinho, estava inconsolável. Pedi que sentasse, ofereci-lhe um café, perguntei a causa de tanto desespero.

- Mataram meu tio, lá no Prado, tadinho, um pobre velho, não fazia mal a ninguém!

- Qual o nome dele?

- O senhor sabe, a gente da casa chamava de tio, mas o povo aí fora chamava de Piquiá, Zé Piquiá.

Foram estas palavras os únicos lamentos que chegaram aos meus ouvidos sobre o assassinato desse ancião de 64 anos, que teve a vida arrancada por um menor. Em um Iguatu em luta contra a violência, acreditava haver mais um levante das instituições, dos setores organizados de nossa comuna, como Igreja, Maçonaria, entidades estudantis, contra esta barbárie, afinal era o assassinato de um velho por uma criança e com requintes de crueldade. Eu mesmo, diversas vezes, havia lançado o meu protesto em crônicas que seguiam sempre o acontecido, como:

CENTAURO: Após a chacina dos animais na Varjota pelo delegado.

PROFETA: Após o assassinato dos dois jovens irmãos, filhos de Mombaça. pelo capitão.

CANGACEIROS: Após a morte da vereadora Edite Barreto.

LUCAS EMMANUEL: Após o latrocínio que teve como vítima o estudante.

Afinal a nossa luta era contra a violência. O silêncio que se seguiu a este crime, sem nenhum tipo de manifestação da sociedade, sem cobertura da imprensa da capital, que nos últimos três meses haviam transformado o Iguatu em um pudim de sangue. Fez-me sentir uma verdadeira ojeriza por esta sociedade contemporânea, afinal, assim ela provou que nunca esteve em luta contra a violência, que o UPA que se fez nos crimes anteriores era porque ela, a violência, havia ferido os "grandes", Piquiá não, Piquiá era pequeno. Respeitando aqui, a dor extrema dos pais que tiveram seus filhos arrancados do seu convívio, quando mais a vida lhe parecia farta, e por não concordar com tanta hipocrisia desta sociedade capitalista em que vivemos que aqui lanço o meu protesto:

Grito! 

Ao sondar minha dor, qual se chora.

 Pedi: "Cristãos, vede meu mal traiçoeiro?"

Mas os homens sem fé no mundo inteiro

Ver não quiseram minha sorte amarga.

Cheio de nojo, procurei um ara

E implorei: "Homens de honra, a mim primeiro?"

E, de tanto fingido cavaleiro

Nenhum, para me ouvir, volveu a cara. 

"Filantropos - Clamei - predicadores,

Moralistas, filósofos, doutores

Consolai o meu íntimo desgosto."

Não se ouviu meu gemido suplicante

Gritei: "Canalhas!", e no mesmo instante

Todo mundo me olhou, voltando o rosto"


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Cícero Correia Lima

Cangaceiros ( A morte da Vereadora Edite Barreto e a volta do deputadão Peito de Aço)

20 de jul. de 2022

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 "Não há mérito nenhum em se esbofetear um cadáver"

" Há um velho conto popular, da região dos Urais, o qual refere que, em uma aldeia daquelas montanhas geladas, vivia, outrora, um velho pope, que levava ele próprio aos ombros a enterrar todos os pobres que não tinham na terra nem parentes, nem amigos. Certa vez porém, uma peste invadiu a aldeia, dezenas de pessoas tombavam diariamente mortas, e uma das primeiras a cair sem vida foi o pope, ficando a população ao desamparo, ao fim de poucos dias os cadáveres jaziam nas ruas por falta de quem lhes abrisse uma cova. E foi quando numa noite, se viu sair do cemitério um vulto, que silencioso e leve ia recolher os corpos, levando-os à sepultura, era a sombra do pope morto, que vinha enterrar seus mortos."

Foi este conto, bonito e triste que me veio à memória, quando vi o meu Iguatu festivo, com centenas de motos cortando as suas ruas e avenidas, desde a manhã, com as buzinas ligadas e o pipocar de mil metralhas à tarde, como se nossa terra estivesse sendo invadida por mil cangaceiros. Não sabiam eles que naquele instante uma família levava a enterrar a sua matriarca, e com ela, pedaços de corações, onde estava agora o respeito à dor do seu semelhante? Haveriam todos enlouquecido? Bom de veras tivesse a minha prima um peito de aço, assim talvez, tivesse suportado mais tempo a ausência do seu filho Adalberto, baleado por algum cangaceiro de tocaia por trás de uma moita braba nas terras de Mombaça. Mas o coração de mãe não suportou tanta dor, e o espírito se libertando da carne foi ao encontro do seu primogênito. Sua ousadia consistiu em cair  no dia do retorno do rei, tivesse ela adiado para outra data o desenlace fatal. Foi mesmo  muita ousadia, talvez daí tenha decorrido o portar-se da Câmara municipal, na pessoa do seu presidente, o vereador Aderilo Alcântara, que mesmo depois de ser avisado do falecimento da ex-vereadora Edite Barreto, segundo o Sr. Irandi Uchôa, ainda pela madrugada, pois ele próprio ligara para o vereador Ronald Bezerra e este se encarregara de avisar o presidente Aderilo, para que providenciasse a disposição da Câmara para um possível velório e uma sessão solene em homenagem àquela representante do povo agora falecida, Não foi no entanto isso que presenciei ao subir a escada que leva ao plenário daquela casa, vinha juntamente com o primo Chico Barreto, carregando o fétero um a cada extremidade do caixão dado ao pouco espaço ali existente. Percebi ainda na escada algo de anormal, no auditório reservado ao povo todas as cadeiras tinham sido retiradas, depois de mais um pequeno esforço colocamos o caixão com a ex-vereadora bem próximo à mesa da presidência. Vinha cansado, as cadeiras reservadas aos vereadores estavam lá, convidativas, uma delas havia pertencido ao meu pai, mas o povo da minha terra não havia ainda me dado esta honra. Preferi então ir à sala de imprensa, onde o Sr. Djaci Araújo encontrava-se, pedi-lhe permissão para sentar, outros foram chegando, a saber. o vereador Ronald Bezerra, Juciêr do Caixão, vereador Dr. Ricarte Rolim. Comentário do Sr. Djacir Araújo:

- Aí ao redor do caixão, de ex-vereadores dá uma câmara.

Começou então a nominar pessoas que prestavam a sua última homenagem à falecida.

- Josa Viana, Eridan Diniz, Zequinha Barreto, Zé Bezerra, Didiê Cavalcante, entre outros.

Perguntei ao Ronald por que não se começava a sessão solene, e obtive como resposta: 

- Estamos esperando o Aderilo, ele já ligou, vem vindo aí.

De fato, minutos depois chegava a pessoa do presidente daquela casa, que cumprimentou a quem quis cumprimentar, se omitindo daí em diante de qualquer atitude para a abertura da sessão solene, onde feita a abertura com a palavra do senhor presidente, seria o microfone cedido a qualquer pessoa do povo que quisesse ali, prestar a sua homenagem àquela mulher, àquela mãe de família, àquela senhora que por décadas após a morte do vereador Luiz Barreto, tomou à frente a direção daquele clã, diminuindo o sofrimento em nossa terra, quando aqui ainda nem especialistas tínhamos no ramo da odontologia, era ela, que de alicate na mão socorria quem lhe procurasse com "dor de dente", quem nunca ouviu falar no Iguatu do beco dos Barreto? Para bom entendedor, meia palavra basta, o plenário vazio de cadeiras (tinham sido retiradas para a missa do rei), o silêncio do presidente, fez com que o povo que já esperava a um bom pedaço de hora, tomasse ele próprio a decisão de sair com o caixão dali. Vi então, que aquela casa já não era mais a augusta casa do povo, que a subserviência dos seus pares, havia transformado aquela casa em:

CASA DE HUMILHAÇÃO.

Tenho dito

Cícero Correia Lima


1-Peito de aço: Cangaceiro

2-Bom de veras: Cangaceiro

3-Moita-braba: Cangaceiro

4-Pope: Sacerdote

5-Rei: José Ilo Dantas 

6-Peito de aço: Dinheiro